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Levantadas das cinzas

Mandy Schlundt é uma alemã de 33 anos que vive há dois em Portugal. Em Abril passado, iniciou uma nova fase na sua vida assentando numa casa em Ribeira Fundeira, na freguesia de Serpins. Tem três filhos, de dez, oito e cinco anos de idade. Anika Gundlach, também de nacionalidade alemã, de 37 anos, veio viver para a mesma casa, que partilham, tendo trazido para aqui todos os seus pertences do seu país natal no início do mês passado.

No dia 15 de outubro, uma semana depois de completar a mudança, acordaram de manhã com a sirene dos bombeiros a tocar e viram pouco depois o fumo a preencher o céu. A cada meia hora vinham ver se havia alguma progressão na direção da sua casa, não havendo razões para alarme. No entanto, a situação muda a partir da hora de almoço, quando o vento encaminha as chamas para o rumo que menos esperavam. “Nunca imaginámos que o fogo tomasse estas proporções e que viesse para esta zona”, recorda Mandy, acrescentando que quando o fogo já estava próximo; já em pânico, apenas tiveram tempo de atirar alguns pertences para uma mochila e fugir dali em vez de ficar e tentar apagar o incêndio.

Estava com os seus filhos e correria o risco de ali ficarem cercados e o único caminho seguro para sair dali tinha árvores de ambos os lados, algo que poderia, em último caso, ser fatal para todos eles. Fugiram pela ponte de Maria Mendes e dirigiram-se para a zona da Candosa e depois Góis, onde encontraram alguns amigos. Mas o fumo e as chamas rondavam também este concelho, pelo que, ainda em choque, não se sentiram aqui seguros, seguindo então para Arganil, onde a situação também não era melhor. Apanharam o IP3 na direção de Coimbra, passando também por zonas que mais tarde seriam consumidas pelas chamas, seguindo para a Figueira da Foz, vendo uma vez mais o fogo que consumia toda a zona, seja da Tocha, Mira e Quiaios como também o enorme clarão e o fumo vindos dos lados do Pinhal de Leiria. Foi pelo Copernicus, um sítio na internet que indica a área ardida nos incêndios que, já no dia seguinte, constataram que a sua casa tinha sucumbido às chamas, o que lhe provocou um ataque de choro dentro das quatro paredes de metal e vidro do seu veículo. Horas depois, confirmava-se o que já era dado por certo, quando um vizinho lhe telefonou a dar a notícia de que só tinham restado as paredes da casa. Não estavam em condições de conduzir, pelo que só no dia seguinte reuniram forças para refazer o percurso em direção a casa de amigos em Serpins, que lhes ofereceram um teto que agora não tinham. No dia seguinte, quarta feira, Anika foi ver o que restava da casa. “Nunca pensei que estivesse assim tão má. Foi um choque para mim”, referiu a professora alemã. Mandy só ganhou coragem para lá voltar no sábado, quase uma semana depois.

Continua na edição impressa do Trevim nº 1365

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Autor: Joaquim Seco

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