O 25 de Abril está a comemorar 45 anos. Já nos soa quase a meio século, a uma efeméride associada a uma época longínqua, que cada vez menos nos vai dizendo respeito, seja pela força do tempo, que vai assistindo à partida daqueles que foram os seus grandes protagonistas mas também de quem viveu esses anos de ouro da nossa história. Daqui a três décadas, apenas teremos os registos em papel, áudio, vídeo ou em suporte digital daquela que será a nossa memória coletiva. Mas a história é mesmo assim. É um processo em constante evolução.
O nosso país, a sua conjuntura ou mesmo os atores políticos não são os mesmos de há quatro décadas e meia. Portugal mudou, e o mundo também, e temos de nos saber adaptar àquilo que é a realidade, o hoje, sem vivermos em anacronismos de uma época que já passou. A guerra fria acabou, todos vimos o muro de Berlim cair. Mas depois vimos as guerras do Iraque, dos Balcãs, ou aqueles que ditaram “o fim da História” e a prevalência de uma nova ordem mundial centrada em Washington. Neste novo século, o mundo mergulhou a fundo na era digital. Surgem novos agentes económicos e políticos que sopram o seu poder a partir do Oriente, seja da China ou da Índia. A Rússia reergueu-se e tem novamente uma palavra a dar. Voltamos a ter um novo equilíbrio de forças a nível global.
O nosso parlamento viu partidos políticos a entrar e a sair. Os que aí continuam, vão-se adaptando às exigências do estilo de vida do seu eleitorado. Quem é o partido, ou político ambicioso que hoje dispensa uma conta no Facebook ou também já no Instagram? São talvez os mesmos males necessários, que há uns anos se traduziam em dar o tal avental ou saquinha de plástico nas campanhas eleitorais.
Vivemos numa época marcada por uma crise das democracias, com uma onda de extremismos a varrer não só a Europa mas países que têm poder de decisão no mundo. Consumimos as chamadas “fake news” sem nos darmos conta, dando azo à hegemonia das redes sociais na construção da opinião pública, distorcendo muitas vezes aquilo que é a realidade, com filtros de cariz político, seja ele de direita ou esquerda. Nesta sociedade do consumo imediato, em que nem paramos para pensar, alastram a xenofobia, os nacionalismos e outros “ismos”. Teremos duas eleições este ano, um momento fulcral para determinar até que ponto os valores de Abril ainda vão fazendo algum eco, nomeadamente junto das camadas mais novas, que nasceram já depois do fim da guerra fria. Não se dá valor aquilo que é dado de bandeja, pelo que é um grande desafio para a nossa sociedade conseguir transmitir estes valores a estas novas gerações cujo smartphone é uma extensão do corpo.
Nos dias que correm, há movimentos cívicos independentes e sindicatos que não estão enquadrados em nenhuma central, ou partido. Uma vez mais, teremos de adaptar o nosso discurso, não nos limitarmos a alguns chavões que não soam a nada aos mais novos e assumirmos a humildade de o reconhecer. Estamos em 2019, a luta continua mas os paradigmas são outros. Ou os apanhamos, ou os defensores da Liberdade ficarão, eles próprios, “orgulhosamente sós”.
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