A Índia é um país de mil cores e outras tantas especiarias, não fosse isso que levasse os marinheiros portugueses a percorrer meio mundo para ter acesso a uma riqueza tão exótica que pouco depois estaria à venda nos mercados europeus. Para quem aqui vem, haverá um sabor que nos deixa um travo bem profundo não só nas papilas gustativas mas sobretudo no coração, aquilo que eu chamo de agridoce. Este país oscila entre estes dois extremos. Junto a tanta riqueza acumulada, reina a pobreza geral, com gente faminta, sem qualquer luz ao fundo de um túnel a que chamamos futuro. Deparo-me com vidas, tantas que são, demasiadamente sofridas, algo que se espelha tanto no olhar vazio de quem carrega tijolos acabados de cozer de uma forma tão mecânica que mais parece um ser autómato. Falo de gente doente, de aleijados que se movem sabe-se lá como, pelas ruas, e nem vou referir-me aos que mendigam, que são muitos. Ao mesmo tempo, muitas destas pessoas encerram em si uma enorme riqueza interior, basta falar com eles e reparar no seu estoicismo ao aceitar a sua condição social como se de uma fatalidade se tratasse, um fado ao qual não podem escapar.
As ruas enchem-se de gente que se esforça para viver dignamente numa sociedade que, ainda hoje, tem dificuldade em esconder o sistema de castas pela qual se regeu ao longo de séculos. Junto deles, abundam os animais, com os quais convivem com a maior da naturalidade, onde se destacam as vacas, as cabras, os cavalos ou mesmo os javalis, que várias vezes vi em estações de comboio, bem perto das pessoas, à procura dos mesmos restos de lixo que os macacos e os cães.
Vacas e cães estão por todo o lado, são omnipresentes neste país. Mas metem dó, sobretudo estes últimos. Todos eles são livres, mas a sua felicidade, para ser real, exigiria que tivessem o estômago mais aconchegado. Por outro lado, não deixo de reparar no respeito que aqui têm pelos animais, ou o modo como os tratam, não impondo a sua presença à da deles. Em troca, os cães são seres que muito raramente ladram ou são agressivos para as pessoas. Segundo as suas crenças religiosas, considerando-se todos filhos de um mesmo Criador, concebidos para conviver e a interagir com eles. É isso que explica que uma estrada esteja quase cortada pelo trânsito, agudizando um engarrafamento já anunciado e, mais à frente, reparo que a causa de todos esses contratempos se resume a uma vaca deitada no meio da estrada. A par de tudo isto, o incontornável problema do excesso de lixo que grassa neste país. Esta matéria multicolor de vários feitios e cheiros parece um animal doméstico, acarinhado e constantemente alimentado pelas mesmas pessoas que sentem que são filhas de um deus que as obriga a viver em harmonia com a mãe natureza, a quem devem respeitar e prestar culto.
Isto é a Índia, um país de sabores tão fortes quanto díspares em que o impossível é ficar-lhe indiferente.
A música e o desenho, de mãos dadas, num evento que juntou os fãs de Jonas, o Reguila. Carlos Sêco foi o autor convidado para apresentar a banda desenhada “O Caso da Custódia Roubada”, na abertura da Semana da Leitura,...
Ler artigoA Cooperativa Trevim acolhe, até ao fim desta semana, a exposição ‘25 de Abril 50 anos depois’, com 30 desenhos de Jorge Rato, autor com ligações familiares à Castanheira de Pera que viveu intensamente a revolução, como o próprio recordou na abertura da iniciativa, no dia...
Ler artigoA Comunidade Local dos Baldios da Freguesia de Serpins (CLBFS) aprovou por unanimidade, na assembleia de 15 de março, a possibilidade de interpor uma ação judicial ao Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF). Em causa a falta de...
Ler artigoIn ‘Aguas de Pedra’ Deixaste o teu torrão na esperança De uma vida mais digna, mais segura À custa do trabalho e confiança De quem sempre sabe o que procura. A coragem repassada p’las saudades São contrastes pela...
Ler artigo
0 Comentários