Mel da Serra da Lousã muito condicionado pela vespa asiática e maciços de eucaliptais
Dois anos após os incêndios de 2017, produção de mel continua ainda muito “aquém do potencial”, reconhece diretora executiva da Lousamel
Após ter sofrido uma quebra na ordem dos 90% em 2018, estima-se que a produção de mel este ano tenha aumentado, no entanto, o panorama apícola atual está “muito aquém do potencial produtivo”. Segundo Ana Paula Sançana, diretora executiva da Cooperativa Lousamel, até à data “entraram cerca de seis toneladas de mel”, número muito inferior às “30 toneladas anuais”. Consequência dos incêndios florestais de 2017, o número de colmeias dos associados “resvalou para cerca de cinco mil”, mas atualmente já ultrapassa as 12 mil. Registou-se a entrada de 20 novos cooperadores, sinal de que “as pessoas não desistem da atividade perante as contrariedades que têm surgido”.
“Infelizmente continuamos a assistir a maciços de eucaliptais e de acácias, que não contribuem para a produção de mel, e a regeneração natural, com espécies que seriam expectáveis para a região, dá lugar a outras não autóctones. O mel de elevada qualidade origina-se nas urzes, castanheiros e outra flora regional, e é disso que a apicultura da região necessita”, alerta.
Vespas, ordenamento florestal e alterações climáticas
A fixação da vespa asiática no território nacional, alterações climáticas e a falta de ordenamento do território em termos apícolas, são alguns dos factores enumerados pela responsável como grandes influenciadores nos níveis de produção do néctar. Quanto ao inseto invasor aponta que “o combate não resolve o problema, apenas diminui o impacto da predação”, considerando que “a solução passará sempre pela detecção precoce dos ninhos e pela colocação de armadilhas nas alturas chave”.
Referindo-se ao fundo de apoio financeiro que o Governo criou no início do ano para eliminação de ninhos de vespa asiática, com um valor máximo de 10 mil euros a atribuir a cada candidatura, Paula Sançana acredita que no caso de alguns municípios “essa verba é insuficiente”. Em matéria de apoios indiretos, considera serem também “manifestamente insuficientes”, “uma vez que as abelhas sofrem muito com esta predação e os apicultores têm encargos quatro vezes superiores para manter as colónias com níveis aceitáveis de sanidade e vitalidade”. Já as variações climáticas evidenciam-se como “um sério problema para a produção”. “Os insectos têm um poder de adaptação muito mais lento do que as plantas” e como consequência o “desfasamento dos estádios fenológicos das plantas, provocados por estas alterações, fazem com que as abelhas não tenham o néctar e o pólen disponível na altura adequada”.
Outra das sua preocupações é a forte concorrência de méis provenientes de fora da União Europeia, “que no seu rótulo vem designado como mel de origem não UE e também mel de mistura UE e não UE”, explica. “Estes méis entram na Europa com preços esmagadores e características de qualidade que em nada se comparam aos méis europeus, e os consumidores não estão atentos a este facto.”
0 Comentários