Sadjat, uma personificação do Irão
Sadjat é um jovem de 31 anos de idade, cheio de vida e de gosto pela hospitalidade. Tem uma ascendência indiana, passada pelo seu avô que daí veio para trabalhar na Pérsia em meados do século passado e se baseou em Yazd. No seu Peugeot do início da década de 90, vai-me mostrando o que os arredores desta cidade têm para mostrar. Acabou o curso de Engenharia, mas prefere trabalhar na área do turismo.
“Os meus amigos têm o seu ordenado de 250 euros, mas eu não. Tenho fases durante o ano, mas não me arrependo pois não conseguiria viver fechado num escritório como eles durante o dia”, remata, sorridente. Sublinha, com tudo o orgulho, que o seu pai foi o primeiro agente turístico da cidade, um feito inédito numa época em que quase não se falava dessas coisas. Gostava de conhecer o mundo, mas não é fácil sair dali, e muito menos para passear na Europa. Após visitarmos Ardakan, uma aldeia fantasma no meio do nada, ao ver-me a chegar ao carro, sai do abrigo que era a sombra de uns arbustos, carregando uma lancheira já com a pátina do tempo bem vincada e oferece-me tâmaras para acompanhar com café que também trouxe num termo. Ali estivemos à conversa, abrigados de um sol que nos queimava com 48 graus de temperatura. Perguntei-lhe se sentia as oscilações de política internacional em relação ao seu país. “Há poucos anos atrás, depois do acordo nuclear, houve mais estrangeiros a visitar a minha terra. Havia trabalho e começámos a viver melhor. Mas depois de Trump subir ao poder e de rasgar o acordo, deixaram de vir. Todos nós sofremos com isso. Quando ele fala, sabemos que a nossa vida vai piorar.”
O seu sorriso perdeu parte da sua pujança enquanto partilhava estas preocupações comigo. Quando regressámos ao final da tarde ao ponto de partida, despeço-me dele e digo-lhe que a melhor medida que o seu governo poderia tomar seria dar um visto gratuito a todos os cidadãos da União Europeia, para que vistassem a sua pátria, o que seria óptimo pois não só lhes traria maior prosperidade como também seria uma forma de se desintoxicar a opinião pública, pelo menos a europeia, sobre o que é na realidade este grande e belo país.
Ao voltar, neste dias, a ver as notícias sobre o Irão e dass sanções que os Estados Unidos e alguns países europeus lhes insistem em agudizar, não posso deixar de me lembrar do meu amigo Sadjat.
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