Há pessoas que ficarão para sempre na memória da gente. E Joaquim Gomes Miranda é um deles. Joaquim trazia consigo a memória viva da Lousã. Sempre interessando nas questões e na História da Lousã, apesar de estar no Brasil, ele tinha compromisso com a verdade dos fatos. Escrever crônicas para o Jornal Trevim e, mais tarde, participar das redes sociais foram as maneiras que encontrou para diminuir a distância da terra de seus ancestrais.
Um dos acontecimentos mais marcantes na vida de Gomes Miranda, como correspondente e representante do jornal Trevim, foi a comemoração do centenário da Colônia Nova Louzã, ocorrida em 11 de Maio de 1968, com cortejo, missa campal, desfile de bandas militares e estudantis, fogos de artificio, lançamento da pedra fundamental da Igreja de São João na Vila Montenegro. Arnaldo d´Avila Florense, o impulsionador das festividades, recebeu o título de cidadão Lousanense. Destacou-se, também, a oração do lousanense Sr. José Luís Antunes, representante da Santa Casa da Misericórdia da Lousã.
O artigo no Trevim de sua autoria, com o título Grande festa luso-brasileira, foi brilhante a homenagem ao Comendador Montenegro e à Vila da Lousã na cidade do Pinhal (Brasil), publicado em 11 de junho do mesmo ano, transparece o seu entusiasmo pelos feitos do lousanense Comendador Montenegro. Em suas palavras:
´Pela manhã, daquele dia, à entrada da cidade de Pinhal, formou-se o cortejo, que demandou o Paço Municipal e do qual faziam parte S. Emo. Cardeal Rossi, de São Paulo, S. Exa. Revmo. Bispo de São João da Boa Vista, autoridades federais, estaduais, representantes consulares, membros da colônia portuguesa e pinhalense. No edifício Municipal o Prefeito da cidade, Dr. Helio Vergueiro Leite, entregou ao Cardeal Rossi as chaves da cidade´, dando as boas vindas aos visitantes. Depois o Cônsul Geral de Portugal em São Paulo, Dr. Luis Soares de Oliveira, fez entrega ao prefeito de Pinhal da bandeira da Vila da Lousã, oferecida pelo Presidente Dr. Henrique Pereira de Figueiredo´.
Gomes Miranda acompanhava com entusiasmo as minhas pesquisas que resultaram em artigos acadêmicos e na publicação das obras Presença Portuguesa em São Paulo (2006) e Vida e Obra do Comendador Montenegro (2014).
Quero dividir com os leitores do Trevim uma lembrança do dia em que estive rodeada de amigos na Casa de Portugal de São Paulo em seu 72º aniversário, recebendo a Medalha Comendador Pereira Queiroz, pelo livro Presença Portuguesa em São Paulo. Foi uma noite inesquecível celebrada com dança, música, vinho e a farta mesa portuguesa. Morava ele na cidade de Sorocaba, e veio especialmente para participar do evento. Reformado, passou a viver no interior e com o tempo as suas vindas à Capital foram se escasseando, mas, sempre que vinha, ficava hospedado no apartamento de seu grande amigo Alexandre Antunes Pereira, que no Brasil foi livreiro, e ligou-se ao grupo de resistência ao salazarismo e luta pela libertação das colônias, por meio do jornal Portugal Democrático, distribuído entre 1964 a 1975.
As histórias que Gomes Miranda contava sobre a Lousã tinham muito sentido. E com o seu falecimento ocorrido em 26 de março, ficam a sua memória e o seu legado.
Sonia Freitas
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