A peça “Maria, Senhora de Mim” parece evocar algo de profundamente religioso. Na verdade, a personagem “Helena” pega numa imagem de Nossa Senhora enquanto vai tecendo as malhas do seu destino, que mais não são do que revisitar memórias de uma vida de prostituta, a que as suas irmãs mais novas também não conseguem fugir.
Esta personagem é interpretada por uma Helena real, natural da Lousã, Helena Adão, que sempre gostou de fazer teatro na escola e que depois de 2013, já aposentada do ofício de professora, se tem dedicado com outra intensidade a este labor de entrar nas personagens, no grupo experimental de teatro “Páteo das Galinhas”, da Figueira da Foz. Esta peça foi escrita para si, para Isabel Cardoso e Lígia Bugalho, as outras atrizes com quem contracena, por um amigo comum, o figueirense António Tavares, ex-vereador da Cultura. A cumplicidade e proximidade entre escritor e atrizes, aliada à vasta experiência profissional da encenação, pode ajudar a explicar os prémios que esta peça conquistou no festival de teatro amador “Palcos”, de Santo Tirso, realizado em outubro. Além de melhor espetáculo (a que correspondeu um prémio monetário), “Maria, Senhora de Mim” arrebatou os prémios de melhor encenação, atribuído a Ricardo Kalash, e melhor interpretação feminina, entregue a Helena Adão.
“Não vou dizer que não fico contente, mas o prémio coletivo é mais importante”, salienta a atriz, de 70 anos. Simples e humilde, sobretudo preocupada em entrar o melhor possível nas personagens que lhe são atribuídas, processo em que se confessa “intuitiva”. Mas que conta com o auxílio de um dirigente, o encenador, a quem chamou “orquestrador de pessoas”. “O que pode ser feito connosco é ilimitado”, frisa, referindo-se ao elevado potencial que cada pessoa tem enquanto matéria-prima para a interpretação, e não só.
Continua na edição impressa do Trevim n.º 1367
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