Desta vez, o Encontro dos Povos da Serra da Lousã, no próximo sábado, é especialmente concentrado na necessidade de discutir a vida na montanha multimunicipal. O debate “Serra da Lousã – Repensar e agir!” conta com os oradores Carlos Fonseca, Armando Carvalho, Aires Henriques, José Pais e Rita Serra. É urgente intervir pelo futuro da região, envolvendo as populações.
Apesar da tragédia que atingiu a região, em junho, a organização do 21º Encontro dos Povos da Serra da Lousã decidiu manter a realização desta iniciativa de âmbito multimunicipal, no próximo sábado, 15 de julho, no Santo António da Neve, no concelho de Castanheira de Pera. O encontro de confraternização e defesa da Serra, iniciado em 1997 pelo jornal Trevim (Lousã) e associação Caperarte (Castanheira de Pera), assume agora renovadas preocupações cívicas, humanas e ambientais, na sequência dos graves incêndios que assolaram vários municípios vizinhos, causando pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos. A hora é de refletir e de avançar com iniciativas concretas, com uma nova atitude do poder político e dos cidadãos em geral pelo futuro da Serra da Lousã e das suas gentes, que aposte na fixação das pessoas, na criação de empregos, através da promoção de projetos ambientalmente sustentáveis e de um ordenamento florestal que não pode ser mais adiado, investindo na plantação de espécies autóctones, no combate às invasoras e numa verdadeira contenção do avanço do eucalipto e outras exóticas. O futuro da “montanha tutelar” cantada pelo poeta Sanches da Gama passa pela salvaguarda e reforço da sua riqueza patrimonial, ambiental e económica, em que atividades emergentes, como turismo, desportos de aventura, eventos culturais e caça, sejam parte de um todo equilibrado, envolvendo organismos do Estado, autarquias, baldios, associações, empresas e pessoas ligadas à Serra da Lousã, sem nunca esquecer setores tradicionais, como agricultura, pastorícia, apicultura, madeira e lenhas, entre outros. A organização apela à participação dos povos serranos, seus familiares e amigos na 21ª edição do Encontro, no recinto do Santo António da Neve, do nascer ao pôr-dosol, informando que o programa passa a incluir um debate, às 10:30, sobre o que as comunidades locais querem para as áreas devastadas pelo fogo e para o futuro da Serra da Lousã no seu todo. Pretende-se que esta sessão ao ar livre, intitulada “Serra da Lousã – Repensar e agir!”, decorra sob o signo da solidariedade e da cooperação intermunicipal, em memória das vítimas do fogo que destruiu floresta, biodiversidade, agricultura e habitações, tendo causado também a morte de elevado número de animais domésticos e selvagens, com especial violência nos concelhos da Castanheira de Pera, Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos, mas também Góis, Penela, Pampilhosa da Serra e Sertã. O biólogo e professor universitário Carlos Fonseca, o engenheiro florestal Armando Carvalho, o investigador e promotor turístico Aires Henriques, o
administrador da Praia das Rocas, José Pais, e a investigadora Rita Serra, no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, confirmaram a sua participação no debate, cuja ata será depois enviada às entidades competentes. A organização convida autarcas, dirigentes associativos e outros responsáveis institucionais a engrandecerem esta assembleia dos povos serranos com a sua presença. Erguida em finais do século XVIII, a capela de Santo António da Neve e os Poços da Neve, na antiga freguesia do Coentral, estão classificados como imóvel de interesse público. O conjunto arquitetónico situa-se num sítio emblemático da Serra da Lousã, onde outrora, na festa de 13 de junho, em honra do advogado do gado, se reuniam anualmente os povos serranos, numa espécie de assembleia que juntava romeiros dos concelhos vizinhos, especialmente Castanheira de Pera, Lousã, Góis e Figueiró dos Vinhos, mas também Pedrógão Grande e Miranda do Corvo. Durante séculos, no inverno, o gelo era armazenado nos poços, cavados no xisto, e depois transportado em carros de bois durante a noite até Vila Nova da Barquinha. Seguia depois de barco, pelo rio Tejo, até Lisboa, para ser consumido em gelados na corte e nos cafés da capital, como o Martinho da Arcada. Desta vez, o Encontro dos Povos da Serra da Lousã é promovido pelo jornal Trevim (Lousã), associação Caperarte (Castanheira de Pera), Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã (Góis) e Liga de Amigos do Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques (Lousã), com a colaboração do Grupo Etnográfico da Região da Lousã, moradores do Coentral, GNR, Câmara da Lousã, Câmara e Bombeiros Voluntários da Castanheira de Pera. Está vedado o acesso de viaturas às áreas onde se comem os farnéis. A organização recorda que o Encontro dos Povos não é uma feira e que não é permitida a utilização de aparelhagens sonoras. No entanto, a organização incentiva a venda de comes e bebes, além de produtos da Serra da Lousã, como artesanato, queijo, mel ou plantas aromáticas. No dia 15, solidariamente, todos ao Santo António!
A organização:
Jornal Trevim Associação Caperarte Liga de Amigos do Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques Lousitânea – Liga de Amigos da Serra da Lousã
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