
«A Índia, mais do que um país, é um continente multicultural onde se falam 22 idiomas oficiais, 1.576 línguas e dialectos. Cada estado tem a sua língua e cultura. Eu sou do estado de Maharashtra (100 milhões de habitantes com a capital Mumbai) e a nossa língua materna é o Marati» – explica-nos o cartoonista indiano, Vishwas Suryawanshi.
«O Humor – Hasya – é uma essência humana presente em toda a história da Índia, começando pelos seus livros sagrados. Cada idioma tem sua própria forma de humor. Em Marathi, é nas formas de arte popular que ele principalmente se manifesta, mas também destaco St Eknath (1533 d.C.) e os seus “Bharud” (forma poética devocional com humor). A forma tradicional do drama Marathi é chamada “Tamasha”, cheio de comédia, música e drama».
Ou seja, a religião nunca foi um impeditivo do humor, antes, pelo contrário, um cultivador. «As diferenças religiosas – prossegue Vishwas Suryawanshi – sempre foram respeitadas. Existem diferenças, mas nunca ridicularizamos com base na filosofia. O único problema com as outras religiões é sua atitude expansionista. Hoje em dia, algumas organizações e políticos querem-nas usar para provocar conflitos, confusão, e implementar a intolerância ao humor e às críticas. Como referi antes, mesmo os Deuses não foram poupados da crítica nas formas antigas de arte. Agora existem perseguições, casos de prisão de cartoonistas / comediantes… O caso mais grave foi com Irfan Hussain, cartoonista da revista Outlook, que foi sequestrado e assassinado em 1999».
Então porquê este retrocesso na liberdade de expressão? «Por detrás destes radicalismos modernos estão os partidos políticos (a corrupção, conflitos de interesses…), novas seitas religiosas, esquerdistas de direita, ultraliberais, Naxais urbanos, Naxalitas militantes (Maoístas) que se escondem nas selvas da Índia central… Todos eles procuram influenciar a criatividade e a liberdade de expressão dos outros. Há muito poucos periódicos a publicarem cartoons, por isso a maioria publica na net e mesmo assim são presos e perseguidos e, muitas das vezes, os editores publicam, mas depois não pagam».
Apesar de os temas globais terem maior impacto internacional, não acha que as temáticas regionais também são importantes? «Claro que sim, tanto mais que muitos dos temas regionais têm um sentido global. As emoções são iguais, mesmo se a abordagem, a apresentação e o estilo possam ser diferentes, está aí a mesma magia. A globalização tornou este mundo plano. Novas tecnologias e tendências devem ser adoptadas, mas sem esquecermos as raízes. Só a mistura do antigo com o novo, o regional com o internacional, é que fará florescer a originalidade. A arte e a diversidade cultural devem ser mantidas pela sua beleza e singularidade. Brincar com as nossas tradições e cultura, é conhecê-las melhor, criticando-as, tolerando-as, integrando-as».

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