Navegando o nosso olhar e razão, pelas “ondas sublimes da memória”, avistamos ao longe um mar de bonança, simultaneamente proceloso, numa miscelânea de exibicionismo, entre a palavra e o canto galhofeiro, com um tinto ou outro a escorrer nas goelas, então triviais e tagarelas! Foi um pouco assim a nossa já distante adolescência…
Desta vez, o nosso sentimento ou tato saudosista leva-nos a uma viagem virtual, pelo lugar de Ceira dos Vales, onde nasceu um grande amigo que partiu cedo demais, levando consigo a revolta de uma vida, que não chegou inteiramente a viver.
Joaquim Marques Cortês ali deu os primeiros esperneios da vida, num berço chamado pobreza…. Entre nós existia uma amizade sagrada, febre de viver, apetência de entretenimento, índole tão próprio na juventude de então. O Joaquim foi tudo isso, farras sobres farras, histrionia pura com aspiração infundada de tornar as noites em dia, com outros grandes amigos dali. Era o filho mais novo do casal Maria Marques e Manuel Cortês, gente pobre, nascida no fundo da humildade e forçada, como era apanágio nesse tempo, a trabalhar a terra que não era sua.
As arcas de milho, debulhado em maré de estio, faziam parte do mobiliário da adega, perfiladas sobre um chão de terra batida. Não obstante, em cima delas umas fatias de broa desse milho colhido entre suor e lágrimas, umas azeitonas retalhadas e uns peixes apanhados à unha logo ali ao lado (o Quim era perito nisso!). Morangueiro em profusão, relíquias de um tempo que jamais vamos esquecer. O Joaquim comprou ponderadamente uma viola e entre “O Vinho da Clarinha e as Sopas do mesmo líquido”, com fífias ou sem elas a festa, era de arromba!… O que podemos mais dizer, do que acrescentar a palavra SAUDADE, em caixa alta?
Trabalhámos mano-a-mano nos Carpinteiros Reunidos (hoje virado Mini Preço) e dali seguiu para a Base Aérea de Tancos como paraquedista, sob o nr. 1144/74. Passou também pela Base Aérea de Monte Real, participando fisicamente no histórico 25 de Novembro de 1975. Três anos após casa-se com Maria Alice Matos Ferreira, de Casal de Ermio, no dia 1 de abril de 1978, vindo o casal a gerar dois filhos, os nossos amigos Pedro e Joana.
Joaquim Cortês, como já atrás referimos, nasceu em Ceira dos Vales a 16.4.1954 e ali faleceu a 31.12.2023, aos 69 anos de idade. Excelente criatura, excelente amigo, grande lousanense…
Carlos Ramalheiro
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