Uma “distância visual d’escrita” por José Luís Santos
“Cidades vazias com gente dentro” foi o livro publicado por um coletivo de fotógrafos portugueses e estrangeiros que captaram os efeitos do confinamento no seu período mais crítico, no passado mês de abril, no nosso país mas também no estrangeiro, uma edição que contou com o contributo de José Luís Santos, colaborador do Trevim.
“A minha Lousã encontrava-se praticamente deserta. Os carros passavam esporadicamente, tal como as pessoas. Senti-me como um militara sair do seu bunker e a iniciar uma caminhada em plena terra de ninguém, e em terreno minado, sob a mira das armas de fogo de um inimigo invisível. Não conseguia descolar a sensação de desconforto, de insegurança ou de medo que se tentava apoderar de mim, mas segui o meu caminho” contou o fotógrafo e professor de História, que nessa altura trabalhava a partir de casa dando aulas por videoconferência. O autor acrescentou que as suas incursões nestes tempos mais receosos pelo centro da vila, para lhe “medir o pulso” foi, acima de tudo, “um contributo para a futura memória colectiva desta terra”, a que juntou a um conjunto de textos que foi escrevendo e partilhando com a comunidade local nas redes sociais. “As dificuldades também nos aproximaram uns dos outros. Começámos a olhar mais para os nossos vizinhos e a conviver com eles, além de que foram levadas a cabo várias iniciativas de voluntariado, do qual me orgulho também d éter feito parte”, referiu José Luís Santos, frisando que por vezes é nos momentos mais agudos que também “consegue vir ao de cima o melhor de nós”, concluindo que “a sociedade civil acordou de uma dormência que a ia tornando insossa e sem conteúdo, tendo sido necessário chegarmos a este fundo de um poço para perceber tudo isso”.
O livro foi organizado pelo Instantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes e foi publicado pela editora Almalusa.
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