(1932-2020)
O sindicalista e colaborador do Trevim Kalidás Barreto, que há meio século foi um dos fundadores da CGTP, morreu no dia 30 de outubro, devido a doença que o afastou da vida pública nos últimos anos.
Filho de Adeodato Barreto, intelectual republicano nascido em Goa, antiga colónia portuguesa integrada na Índia, em 1961, e de Emília do Carmo Costa, de Coimbra, o antifascista Luís Maria Kalidás da Costa Barreto faleceu na sua residência, na Castanheira de Pera, duas semanas após ter completado 88 anos.
Democrata empenhado na oposição à ditadura fascista, depois da revolução do 25 de Abril foi eleito deputado à Assembleia Constituinte, pelo PS, tendo sido um dos signatários da Constituição da República de 1976.
Defensor do intermunicipalismo, Kalidás foi um impulsionador de diversas iniciativas culturais, cívicas e associativas na Castanheira de Pera, onde vivia desde a juventude.
Além do Trevim, em cuja última página assinou durante largos anos a crónica “D’Aquém Trevim”, escreveu com regularidade noutros jornais da região, como O Castanheirense e A Comarca de Figueiró dos Vinhos, tendo publicado também textos em diversos títulos da imprensa nacional.
No dia 13 de julho de 2019, por iniciativa deste jornal, foi homenageado no Santo António da Neve, no âmbito do 23º Encontro dos Povos da Serra da Lousã, do qual foi um dos impulsionadores, em 1997.
Em 1999, na Lousã, com o escritor António Arnaut, seu antigo companheiro na Assembleia Constituinte, Kalidás colaborou na criação da Cooperativa Arte-Via, sendo ambos sócios honorários da instituição.
Ele foi ainda provedor do associado do Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres, atual Fundação INATEL.
Nasceu em Montemor-o-Novo, no distrito de Évora, em 16 de outubro de 1932, e desde muito novo trabalhou como contabilista em diversas fábricas têxteis da sua terra adotiva.
Das atividades contra o regime de Salazar e Caetano, que lhe valeram perseguições e desemprego forçado, destacam-se o trabalho político que desenvolveu como membro da comissão de apoio à candidatura do general Humberto Delgado à Presidência da República, em 1958, e na organização da Oposição Democrática na Castanheira de Pera, nas eleições de 1969.
Com vários livros publicados, o sindicalista têxtil que militou na Juventude Operária Católica (JOC) é autor da monografia daquele concelho, de cuja Assembleia Municipal foi o primeiro presidente, na sequência das eleições locais de 1976, após ter integrado a Comissão Administrativa da Câmara constituída na sequência da Revolução dos Cravos.
Em 1978, o então dirigente nacional da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) desvinculou-se do PS e participou na fundação da União da Esquerda para a Democracia Socialista (UEDS), vindo mais tarde a reaproximar-se do primeiro partido.
Em 2004, no âmbito das comemorações do 30º aniversário do 25 de Abril, Kalidás foi agraciado pelo Presidente da República Jorge Sampaio com a Ordem da Liberdade.
Após ter participado ativamente, em 1970, na criação da Intersindical Nacional, mais tarde CGTP, foi presidente do Sindicato dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios e Vestuário do Centro e conselheiro técnico de missões portuguesas à Organização Internacional do Trabalho.
CGTP presente em dia de luto na Castanheira
Uma delegação da CGTP liderada pela secretária-geral, Isabel Camarinha, deslocou-se à Castanheira de Pera, no dia 31, para render homenagem ao cofundador e dirigente histórico da central.
“Kalidás Barreto foi um ativo sindicalista, desde a primeira hora, no processo de fundação da Intersindical e um incansável defensor do seu caráter unitário. A sua morte constitui uma perda que muito lamentamos”, afirmou Isabel Camarinha, numa nota de pesar da CGTP.
O presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, realçou igualmente o mérito do sindicalista, “uma indiscutível referência da luta pelas causas e os direitos dos trabalhadores”.
Também a direção nacional do PS endereçou “as mais sentidas condolências” à família do antigo deputado.
O município da Castanheira de Pera, presidido pela social-democrata Alda Carvalho, cumpriu um dia de luto em sua memória.
“Homem de causas e lutas sociais, desempenhou inúmeras e multifacetadas tarefas, sendo também autor de diversas obras de relevo, entre as quais a monografia do concelho, livro indispensável para conhecer e preservar para memória futura a história e os usos e costumes desta terra e das suas gentes”, enfatizou a autarca.
O Trevim apresenta sentidos pêsames à família de Kalidás Barreto, especialmente à esposa e aos filhos e netos.
Casimiro Simões
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