No dia 27 de janeiro realizou-se, na Escola Secundária, uma sessão comemorativa do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, organizada pelos professores de História A e Filosofia e destinada aos alunos do décimo ano de escolaridade.
A atividade, dinamizada pelo prof. Vítor Simão, consistiu na visualização do filme Noite e Nevoeiro de Alain Resnais, antecedido de comunicação introdutória e seguido de debate.
Noite e nevoeiro é um filme genesíaco sobre o holocausto (do grego holos (todo)+kaustro (queimado) – também se usam os conceitos de shoah (catástrofe), preferido pelos judeus, e extermínio, mais abrangente. A palavra alemã oficial, utilizada por Hitler e Himmler, era ausrottung, cuja etimologia remete para “extirpação pelas cinzas”.
Centrado no campo de extermínio de Auschwitz, o filme foi realizado a pedido do Comité de História da II Guerra Mundial, com a finalidade de tentar dar a ver a dimensão do acontecimento. A este pedido não foi alheia a capacidade única do cinema – uma forma artística que tem um alcance como nenhuma outra – de se abrir ao maior número de pessoas possível. O filme não é sobre o extermínio judaico é sobre o extermínio, e Resnais, consciente de que «nenhuma imagem pode devolver a dimensão do que aconteceu», quis «fazê-lo a preto e branco e a cores» – o que é filmado no museu e as imagens originais de arquivo da época são a preto e branco; os travellings exteriores do campo em 1956 são filmados a cores.
Noite e Nevoeiro – o título é todo um programa pois: i) chegava-se ao campo de noite e com nevoeiro; ii) Nacht und Nebel é o nome de um decreto, de 07.12.1941, que estabelece algumas regras para os campos; iii) estas palavras alemãs designam uma categoria de deportados, a dos primeiros a serem mortos.
A participação dos alunos foi muito positiva, quer durante o visualização do filme, quer na atenção prestada à comunicação, quer na participação no debate final, onde vários alunos colocaram questões pertinentes ou fizeram reflexões críticas oportunas de atenção e pensamento, mostrando que se há acontecimento que nos interroga é este: Como compreender a barbárie? Como conservar essa memória? Como transmitir um relato que ainda confira um futuro para a humanidade? Como é possível que cidadãos comuns possam cometer tais crimes? É possível desculpar ou há coisas que são de tal modo inadmissíveis que são antíteses fundamentais e, portanto, insuperáveis? Há castigo à medida destes crimes? E há atenuantes? Como é que alguém que participou ativamente na “solução final” pode continuar a viver ordinariamente? E os que se salvaram?
Doravante, como escreveu G. Steiner problematizando as relações da cultura com a barbárie, sabemos que se pode tocar Schubert à noite, ler Rilke de manhã e torturar e exterminar ao meio dia.
A história é um tecido de contradições, de crimes cometidos em plena lucidez, pelo que a memória é, dolorosamente, a única relação que podemos ter com essas vítimas. É por isso que ela é igualmente uma instância ética, a mais profunda da nossa humanidade, face à demasiada injustiça que há no mundo e de que os campos de extermínio não têm paralelo. Só o esquecimento significará a sua morte definitiva, mas é para contrariar que isso aconteça que nós continuaremos a cultivar a memória.
Profs. Inês Ribeiro e Vítor Simão
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