O humor, a excentricidade e o farto bigode à Manel Campeão, servem-nos hoje como lembrete à tipicidade deste lousanense que, em particular, a nossa classe média bem conheceu!
Joaquim Fernandes de Almeida, nascido na Flor da Rosa no ano de 1925, era filho de José F. Almeida “Gato” (1887/1956) que gerou uma lista interminável de filhos e foi fundador de uma moagem na Flor da Rosa e, simultaneamente, em primórdios do século XX, da antiga “Serração de Madeiras”, onde hoje funciona o hipermercado Continente. E foi ali, naquela saudosa área, que nasceram os Fernandes de Almeida (desta linhagem) sob o epíteto ancestral de “Gatos”. São inúmeras as histórias sobre esta gente, desenvolvidas no interior da humildade lousanense… Não conseguimos apurar com exatidão a origem desta alcunha, apenas sabemos que é secular e que o sobrenome Almeida, tem proveniência na Silveira, Serra da Lousã.
Joaquim Fernandes de Almeida (façam favor, Quim Gato) era um dos motoristas desta empresa, assumida no ano de 1950 pelo seu irmão Armando (1921/1982), falecido num acidente de viação junto a Boiça de Penela a 30 de janeiro de 1982, aos 61 anos de idade, numa altura em que empregava cerca de 100 trabalhadores. Partindo sem dizer água vai, deixou a esposa Cesaltina, as filhas Palmira e Gabriela e o filho Zé Gato, entregues ao destino daquela indústria. Em verdade, estas firmas eram, naquele tempo de extrema penúria, a faculdade pessoal da indigência lousanense.
Quim Gato era, em nosso ver, um homem de temperamento salgado e, embora vivesse ali junto à Fonte do Botão (que já não existe), saciava a sede a dez metros ao lado, na sua própria adega, onde algumas vezes entrámos! Recordamos com saudade esses momentos, esses homens feitos de um só coração!…
Se nos perdoam a expressão, queremos dizer que os “Gatos” (assanhados ou não) tinham na verdade uma idiossincrasia pacífica, ramificada certamente na simples estirpe dos seus antepassados!… Classificamos este nosso antigo vizinho como um homem de irreverência sadia, a tender para a truanice, sem deixar porventura de ser um cidadão justo, liberal. Foi a todo o tempo, um exímio representante do casticismo lousanense.
Como motorista da casa Armando Gato teve ao longo dos anos vários ajudantes, entre eles o nosso saudoso amigo Adelino Sequeira (1923/2006), que em meados da década de 60 emigrou para os Países Baixos, onde veio a falecer. Era o excelente “dueto” Quim & Lino, a friccionar aquele instrumento que, na gíria musical, se chama copofone! Adelino Sequeira, “sinfonista de Alegros” e que tocava muito bem gaita-de-beiços, tinha por hábito desinfetar a mesma com bagaço e o concerto era de arromba!
O chiste folgazão de Quim Gato deixou de o ser a 8 de dezembro de 1990, três meses após o seu sexagésimo quinto aniversário. Foi casado com Florinda da Piedade, nascida na Rua Nova a 26 de janeiro de 1928, felizmente ainda viva, graças ao eminente empenho de suas filhas Odete, Leonor, Gena, Lena e filho Pedro. O José (gémeo com a Gena) faleceu após um grave acidente de viação na Reta de Coimbra, no verão de 1976.
Carlos Ramalheiro
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