Avançar para o conteúdo principal

Território do ‘metrobus’ atropela cidadania

Casimiro Simões

Em 2016, foi entregue na Assembleia da República uma petição com mais de 8.000 assinaturas, promovida pelo Trevim, pela reposição do serviço público ferroviário no Ramal da Lousã, encerrado em 2010. O documento foi também apresentado ao gabinete do primeiro-ministro, António Costa.

No parlamento, a iniciativa teve desenvolvimentos com a aprovação de várias resoluções. Do executivo de Lisboa, nem chus, nem bus. Ou melhor: lixados sem comboio e ainda sem ‘metrobus’. Em 2018, o movimento Lousã pelo Ramal voltou à carga e entregou o mesmo caderno reivindicativo ao Conselho de Ministros, reunido na Lousã.

Dizem-me agora que os peticionários nunca receberam qualquer resposta do Governo. Há um mês, Costa voltou à Lousã, no contexto de uma viagem na antiga ferrovia, num autocarro elétrico cedido pelo município de Coimbra, sobre asfalto nada amigo do ambiente, na linha que já foi de carris e que, ao que se anuncia, acolherá um dia destes veículos também elétricos e com pneus.

Está demonstrado que os pneus, a nível global, além das poeiras nocivas, originam 80 por cento dos microplásticos que poluem os oceanos! Temos hoje na sociedade portuguesa uma ideia de território, muito presente no discurso político dominante e associada à aplicação dos fundos europeus.

O concelho é agora mais município. Mas este, 30 e tal anos após a integração europeia de Portugal, mais NUT, menos NUT, tende a ser sobretudo território. E o mesmo acontece às regiões, previstas na Constituição da República Portuguesa (CRP), mas que nunca passaram da embriagante cepa torta.

Região, no tal discurso político oficial, é também cada vez mais território, com gente ou sem gente. A região tem pelo menos aquele prenúncio consagrado constitucionalmente. Território, desculpem, é mais palavra abstrata de CIM e secretaria, sem densidade democrática, num tempo em que são esvaziados conceitos como progresso coletivo e cidadania.

Ao contrário de território, cidadão tem proteção na CRP. Meio século depois daquele “dia inicial inteiro e limpo”, como chamou Sophia ao 25 de Abril, território, tecla mil vezes repetida no cerimonial situacionista, colide com a avançada ideia de democracia participativa da Constituição de 1976. A dois meses de novas eleições, 30 anos após as primeiras curvas escorregadias do metro, António Costa defendeu na Lousã que o ‘metrobus’ é a melhor solução de mobilidade para “este território e as populações”.

Mais cauteloso, em 2020, foi o então ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos, que travou ligeiramente quando em Serpins lançou a empreitada: “nunca deixaremos, se em algum momento o volume de passageiros justificar, de (…) termos um meio de transporte mais pesado”. Esperemos sentados.

Tags:
Autor: Casimiro Simões

0 Comentários

    Deixe um comentário

    O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Meteorologia

Artigos relacionados

Trevim: Leia também Dezenas de atividades evocam Revolução em Coimbra Cultura
19 Abr 2024 01:58 PM

A comissão organizadora das Comemorações Populares dos 50 anos do 25 de Abril em Coimbra apela à população a que se mobilize e participe nas mais de 40 atividades previstas para este mês, cujo ponto alto será uma grande manifestação popular,...

Ler artigo
Trevim: Leia também Junta da Lousã e Vilarinho deixa marca física dos 50 anos da Revolução Concelho
19 Abr 2024 01:37 PM

A Junta de Freguesia da Lousã e Vilarinho (JFLV) também se associa às comemorações do 50.º aniversário da Revolução dos Cravos através da inauguração de um monumento evocativo, agendado para 11:00 do dia 25 de Abril no Parque Urbano (junto...

Ler artigo
Trevim: Leia também 25 de Abril valorizou papel das mulheres na sociedade Editorial
19 Abr 2024 01:24 PM

Momento histórico que ficou também conhecido como Revolução dos Cravos, o 25 de abril de 1974 marcou o fim de 48 anos de ditadura em Portugal, permitindo a transição para a democracia, agora feriado e Dia da Liberdade. Nestes 50...

Ler artigo
Trevim: Leia também Empresa paga 130 mil euros para madeireiro parar cortes Concelho
19 Abr 2024 11:18 AM

A Colquida, empresa da família Serra, pagou 130 mil euros à firma Álvaro Matos Bandeira & Filhos para que esta não efetue novas extrações de madeira na zona das Silveiras, na Serra da Lousã, confirmaram ao Trevim fontes ligadas ao processo. Com...

Ler artigo
Trevim: Leia também O Pimpolho Cartunes
18 Abr 2024 11:48 AM

O Pimpolho, de José Sarmento

Ler artigo
Trevim: Leia também Humor a Sêco Cartunes
18 Abr 2024 11:45 AM

Ler artigo
Definições de Cookies

A TREVIM pode utilizar cookies para memorizar os seus dados de início de sessão, recolher estatísticas para otimizar a funcionalidade do site e para realizar ações de marketing com base nos seus interesses.

Estes cookies são essenciais para fornecer serviços disponíveis no nosso site e permitir que possa usar determinados recursos no nosso site.
Estes cookies são usados ​​para fornecer uma experiência mais personalizada no nosso site e para lembrar as escolhas que faz ao usar o nosso site.
Estes cookies são usados ​​para coletar informações para analisar o tráfego no nosso site e entender como é que os visitantes estão a usar o nosso site.

Cookies estritamente necessários Estes cookies são essenciais para fornecer serviços disponíveis no nosso site e permitir que possa usar determinados recursos no nosso site. Sem estes cookies, não podemos fornecer certos serviços no nosso site.

Cookies de funcionalidade Estes cookies são usados ​​para fornecer uma experiência mais personalizada no nosso site e para lembrar as escolhas que faz ao usar o nosso site. Por exemplo, podemos usar cookies de funcionalidade para se lembrar das suas preferências de idioma e/ ou os seus detalhes de login.

Cookies de medição e desempenho Estes cookies são usados ​​para coletar informações para analisar o tráfego no nosso site e entender como é que os visitantes estão a usar o nosso site. Por exemplo, estes cookies podem medir fatores como o tempo despendido no site ou as páginas visitadas, isto vai permitir entender como podemos melhorar o nosso site para os utilizadores. As informações coletadas por meio destes cookies de medição e desempenho não identificam nenhum visitante individual.