A presente edição do Trevim concretiza-se em pleno, como sempre tem de ser, com a chegada às bancas, mas sobretudo a casa dos assinantes, que continuam a ser a razão maior da produção do jornal e da fundação da Cooperativa Trevim, que dentro de dias completa 45 anos.
Em 3 de março de 1979, menos de cinco anos após o 25 de Abril de 1974, foi celebrada a escritura de constituição da Trevim – Cooperativa Editora e de Promoção Cultural, no Cartório Notarial da Lousã, cujo notário à data, em pleno regime democrático, era Henrique Figueiredo, que dá atualmente nome a uma rua da vila.
O ilustre jurista, oriundo de Vila Nova do Ceira, concelho de Góis, já tinha estado, por coincidência, ligado indiretamente ao nascimento do Trevim, em 1967, ao avalizar enquanto presidente da Câmara, junto das autoridades da ditadura, as “boas intenções”, digamos, do grupo de sete jovens, capitaneados por Pedro Júlio Malta, que ousaram fundar um jornal quando não havia liberdade de imprensa, há quase 57 anos, numa época em que Salazar, a braços com três frentes de guerra colonial, em África, onde todos os dias morriam jovens, intensificava a perseguição aos opositores, agravando a vigilância censória aos meios de comunicação social.
Há 45 anos, a criação da Cooperativa foi uma oportunidade, inerente à liberdade associativa e demais conquistas da Revolução de Abril. Mas foi também uma necessidade.
Doze anos após a impressão do primeiro número do Trevim, na Gráfica da Lousã, propriedade do republicano Joaquim Duarte, os fundadores já tinham vidas muito diferentes, com restrições pessoais que exigiam nova estrutura que desse continuidade à publicação de “uma voz nova para uma Lousã renovada”.
O processo arrastou-se algum tempo e incluiu a discussão do futuro nas páginas do próprio jornal, com vários amigos a darem a sua opinião.
Recordo, por exemplo, um texto do colaborador José Augusto Simões, em que este militar da Guarda Fiscal radicado nos Açores (meu irmão mais velho, falecido em 2019) defendia a via cooperativa para assegurar tão auspicioso fim, que mobilizou muitos lousanenses, desde logo os que estavam longe e que liam todas as linhas do jornal, incluindo a publicidade e a necrologia!
Nestas quatro décadas e meia, foi possível fazer melhoramentos e inovações no Trevim e na Cooperativa, uma pequena empresa ao serviço da mesma “Lousã renovada”, que emprega atualmente três trabalhadoras, procurando sempre articular o trabalho remunerado com o labor de tantos voluntários que permitiu chegarmos aqui e garantiu que continuemos independentes e de cabeça erguida.
Os cooperadores que assinaram o documento fundador foram os seguintes: Pedro Malta, António Neves Ribeiro, João Poiares Silva, José Casimiro, José Joaquim Simões, José Ricardo Almeida, Paulino Mota Tavares, Carlos Eugénio Almeida, José Orlando Reis, António Almeida Rodrigues e José Luís Duarte.
O que andámos para aqui chegar, cantaria José Mário Branco!
Valeu a pena, sem dúvida alguma.
Casimiro Simões
Presidente da direção da Cooperativa Trevim
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