Do nascer ao pôr do sol. Este é o mote para o Encontro dos Povos da Serra da Lousã, que no dia 13 de julho cumpriu a sua 28.ª edição, no Santo António da Neve, juntando centenas de foliões.
O dia de sol foi convidativo para as gentes da Lousã, Castanheira de Pera, Miranda do Corvo, Góis, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande se juntarem à festa, cuja abertura coube a Casimiro Simões, também presidente da direção da Cooperativa Trevim, dinamizador da iniciativa desde a primeira hora.
Este ano com uma homenagem aos presos políticos de 1949, assinalando os 75 anos desses acontecimentos e os 50 do 25 de Abril, o jornalista disse que se tratou de “um momento de respeito e de memória por aqueles que tudo fizeram”, incluindo com risco da própria vida, para Portugal reconquistar a liberdade e a democracia, em 1974.
Serviu igualmente para demonstrar que é “possível fazer coisas sem dinheiro”, sublinhou Casimiro Simões, acrescentando que o recinto do Santo António, no sítio do Cabeço do Pereiro, permite unir os povos serranos em confraternização.
Recordou ainda o engenheiro antifascista Nelson Anjos, recentemente falecido, também ele preso e libertado a 27 de abril de 1974 e Kalidás Barreto, um dos fundadores do Encontro dos Povos, que morreu em 2020, que costumava gracejar dizendo que a iniciativa “é uma organização desorganizada que funciona sempre”.
José Ricardo de Almeida, no momento da homenagem, falou da criação da célula do PCP na Lousã, com a participação do então estudante Jorge Santos Babo, absolvido naquele processo, e outros amigos.
José Rodrigues, conhecido por Zé Menina, funcionário da Câmara da Lousã, foi igualmente absolvido, tendo o lousanense Fernando Rosa Neto sido punido com a pena mais pesada do grupo, 20 meses de prisão correcional.
Palmira Olivença, sobrinha de Adriano Pardinha, um dos presos de 1949, da Castanheira, recordou a detenção do tio pela PIDE.
Tortura na prisão de Caxias
“Na prisão de Caxias, a tortura dele era uma torneira, avariada de propósito, a pingar dia e noite. Quando ele regressou, vinha totalmente diferente, gaguejava e era uma pessoa muito nervosa”, disse Palmira sobre o tio.
Pedro Kalidás, filho do sindicalista Kalidás Barreto, falecido em 2020, fez referências ao livro do pai, publicado em 2009, sobre os presos da Castanheira de Pera que “deram o corpo às balas e aguentaram até ao fim a palavra, nunca se deixando levar pela tortura”.
Intervieram ainda Jorge David, Manuel Pires da Rocha e Filomena Martins, esta última responsável por uma evocação poética do antifascista Louzã Henriques, nascido há 90 anos ali bem perto, no Coentral, que também conheceu as cadeias do Estado Novo.
Em exposição, estiveram as fotografias e sentenças dadas a cada um dos presos.
Terminada a homenagem coletiva, foi momento de abrir e partilhar os farnéis, com baile à moda antiga, concertinas, cantigas ao desafio, jogos tradicionais e uma exposição de livros de autores da região.
Em relevo, esteve ainda a atuação da Academia com Vida – Lousã, dirigida pelo compositor lousanense João Francisco, constituído por homens e mulheres, em que a jovem Maria João Nunes se destacou na voz como solista.
Vindo expressamente da Figueira da Foz para se juntar à festa, Jorge Gomes entregou a Casimiro Simões duas fotografias da sua autoria do primeiro Encontro, realizado em 1997.
Dinamizado pelos jornais Trevim e Mirante, Lousitânea, Arte-Via, Associação São Lourenço, Liga de Amigos do Museu Etnográfico Louzã Henriques, Villa Isaura e Grémio União Perense, o programa contou com a colaboração das seguintes entidades: Câmara e Bombeiros da Castanheira, moradores do Coentral, GNR e Junta de Freguesia de Coentral e Castanheira de Pera.
Cidadãos homenageados
– Fernando Rosa Neto (guarda-livros, Lousã)
– José Rodrigues (funcionário da Câmara da Lousã)
– Jorge Santos Babo (estudante, Lousã)
– Inácio Lameiras (tecelão, Castanheira de Pera)
– Américo Simões Correia (alfaiate, Castanheira de Pera)
– Alfredo Coelho Santos (tecelão, Castanheira de Pera)
– Adriano Pardinha (tecelão, Castanheira de Pera)
– Valdemar Rosinha (viajante, Castanheira de Pera)
– José Henriques Corga (operário fabril, Castanheira de Pera)
– Pompeu Paulo (tecelão, Castanheira de Pera)
– José Marques (tecelão, Castanheira de Pera)
– Manuel Rebelo (tecelão, Castanheira de Pera)
– Daniel da Silva (guarda-livros, Castanheira de Pera)
– José A. Tomaz (tecelão, Castanheira de Pera)
– Antero Luiz Ferrão (bacharel de direito, Tentúgal)
– José Cortez Santos (motorista, Pampilhosa da Serra)
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