Lucília Salgado
Há pessoas que tiveram uma tal vida que não merecem que tenhamos pena delas, quando nos deixam definitivamente. Por mim, não consigo! O Rui Fernandes, com quem não tinha grande intimidade, era para mim uma figura importante da Lousã.
Era um dos heroicos fundadores do Trevim, um jornal que eu aprendi a respeitar pela qualidade e isenção dos seus artigos, pela informação que me ia trazendo da Lousã, pela seriedade com que tratava temas mais gerais, do país e do mundo. Eu própria cheguei a colaborar nas suas páginas. Quando soube da sua morte, apenas consegui escrever: “Que triste! Era um tipo tão porreiro!”. Foi o que me saiu do coração.
Disseram-me que não era assim que se falava das pessoas que morrem, que deveria falar de sentimentos, de mandar pêsames à família, etc. Nem me passou isso pela cabeça. Até nem estava a ver se conhecia alguém da família e a palavra pêsames não me diz grande coisa. Acho que o próprio Rui não gostaria muito.
Penso que ainda não encontramos palavras para descrever estes sentimentos sinceros. Pensei nos outros fundadores do Trevim, sobretudo dos que mais gostava. Pensei na sua ausência na Lousã, onde eram figuras que a enriqueciam e que vai perdendo. Pensei até no Trevim, no qual o Rui teve tanta importância.
Sabem por que fiquei triste? Porque ele era mesmo um tipo muito porreiro! A única coisa de que posso fazer votos é que o Trevim continue, com a qualidade que tem, por muitos anos e bons.
A ser útil a todos, até ao meu filho e ao meu neto pequenino, de seis anos, que continuam na Lousã. E são pessoas, como o Rui, que lhe serão úteis. Longa vida ao Trevim e aos seus colaboradores, que o iniciaram e continuaram. Para que, tal como o Rui, permaneçam na nossa memória.
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