O papel da mulher na sociedade portuguesa tem evoluído significativamente nas últimas décadas, refletindo mudanças importantes tanto no contexto social quanto no político e económico. Hoje, as mulheres têm uma presença mais ativa e notória em diversas áreas, como a educação, a política, os negócios e as artes. No entanto, a igualdade de género ainda não é uma realidade plena, e há várias questões que têm de ser alvo de uma abordagem diferente para garantir uma representatividade mais justa e influente a todos os níveis.
Sem dúvida que se operou um progresso acentuado e Portugal passou por transformações profundas desde o período pós-revolucionário, especialmente com a introdução de políticas de igualdade de género e a crescente mobilização de movimentos feministas. A legislação, como a Lei da Paridade (2006), que exige uma quota mínima de 33,3% de mulheres nas listas eleitorais, e a implementação de medidas para combater a desigualdade salarial, tem promovido uma maior inclusão das mulheres na vida pública e profissional. No entanto, o impacto dessas políticas nem sempre é imediato ou total.
Em termos de educação, as mulheres portuguesas estão a superar os homens no nível de formação académica. Segundo dados recentes, a percentagem de mulheres licenciadas é mais elevada do que a dos homens. No entanto, essa vantagem educacional nem sempre se traduz em igualdade no mercado de trabalho, especialmente nos cargos de liderança e nas áreas tradicionalmente dominadas por homens, como a tecnologia e a engenharia.
Os desafios são muitos e as áreas a melhorar são prementes, apesar dos progressos, há ainda muitos obstáculos que precisam de ser superados para que a representatividade feminina seja mais interventiva e equilibrada.
As mulheres em Portugal continuam a enfrentar um fosso salarial significativo em relação aos homens, além de uma maior precariedade laboral e uma menor presença em cargos de chefia e direção. Embora existam mais mulheres nas universidades e a taxa de participação no mercado de trabalho seja elevada, a ascensão a posições de topo é limitada, em parte devido a práticas culturais e institucionais que favorecem os homens.
Apesar das quotas, as mulheres ainda são sub-representadas nos mais altos cargos políticos e empresariais. É essencial que, além de mais mulheres em cargos de liderança, haja uma mudança nas perceções sociais sobre a capacidade e o papel das mulheres nestes espaços de poder.
A cultura da dupla jornada (trabalho e cuidados familiares) ainda está muito presente. Apesar de avanços no que toca a licenças parentais mais equilibradas e maior apoio estatal, a carga dos cuidados familiares recai desproporcionalmente sobre as mulheres, o que limita as suas oportunidades de progressão de carreira e disponibilidade para atividades públicas e de intervenção social.
A violência doméstica e a discriminação de género ainda são problemas graves. O aumento das denúncias de violência e a criação de políticas de proteção têm sido passos importantes, mas é necessário continuar a reforçar a educação e a sensibilização para o respeito e a igualdade de género desde cedo.
Para aumentar a representatividade e intervenção das mulheres em Portugal, algumas medidas essenciais incluem: o reforço das Políticas de Paridade e Igualdade, continuando a aplicar e a melhorar a legislação existente, expandindo as quotas e criando sanções mais eficazes para o seu incumprimento. Para além disso, deve promover-se uma cultura organizacional inclusiva, que não se limite apenas ao cumprimento de quotas.
As áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática continuam a ter uma representação feminina muito baixa em Portugal, o que contribui para uma segregação de género no mercado de trabalho e perpetua clichés de género.
É fundamental começar cedo, a incentivar as mulheres a escolherem a integração das quatro áreas do conhecimento em contextos formais e não formais, associado à necessidade de se aumentar o número de jovens que estudam e prosseguem carreiras ligadas a um conceito integrador do conhecimento e práticas disciplinares “Science, technology, engineering, and mathematics (STEM), desafiando os estereótipos de género nas escolas e nas famílias. Mais, a educação para a igualdade deveria ser integrada nos currículos escolares.
Conceber e promover mais redes de apoio e mentoria para mulheres em setores onde são sub-representadas e apoiar a sua formação em competências de liderança, seria uma forte medida a implementar.
Seria básico ampliar políticas de trabalho flexível e equitativas que permitam a homens e mulheres conciliar as responsabilidades familiares e profissionais de forma mais equilibrada, promovendo uma distribuição justa dos cuidados.
A implementação de campanhas de sensibilização para combater a violência de género, o assédio no local de trabalho e outras formas de discriminação, a par de uma mudança de mentalidades é um processo lento, mas necessário para alcançar uma igualdade verdadeira e efetiva.
A criação de programas específicos que incentivem o empreendedorismo feminino e oferta de apoio financeiro e técnico para mulheres que queiram iniciar ou expandir negócios, seria uma medida com um desígnio.
Embora Portugal tenha feito progressos significativos na promoção da igualdade de género, é essencial manter um esforço contínuo para enfrentar as desigualdades estruturais que persistem. A promoção de uma maior representatividade e intervenção das mulheres em todos os níveis exige uma combinação de políticas eficazes, mudanças culturais e um compromisso coletivo para a construção de uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva.
Luísa Pinto Ângelo
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