A vida vem e vai-se num rufo…
Parece-nos ainda ontem, termos registado na razão, a vivência profissional desta aprimorada figura do povo, simpática da primeira à última volta que fazia, em torno da freguesia de Vilarinho, como carteiro do nosso burgo. Homem de sorriso fácil como a palavra… Nunca duvidámos de sua ventura, aparentemente escrita no seu esgar. Nascido em Ribeira dos Casais (Serpins) a 28 de setembro de 1910, a escassos dias da proclamação da República, argumentamos ter-se tratado de um presente neófito, a “mimar” o escritor e político Teófilo Braga, então presidente a título provisório daquela encrenca!
Albano Nunes Martins (o nosso “convidado” de hoje) casou em 1946, com Cândida Simões Dias (1923/2009), uma simpática senhora, nascida no lugar de Matas em Serpins. O casal gerou três filhos, os nossos amigos Rogério, Carlos Alberto e Sérgio Martins, rapazes educados e amigos do seu amigo. Seus pais foram incansáveis na desenvoltura de seu deontologismo. Todos obtiveram (sem vaidades) o seu curso, favorecidos naturalmente por essa enorme estenia paterna. Resiliência, eis a questão.
Lendo bem os “papeis da memória”, confirmamos que foi subordinado do senhor Óscar Bastos, que chefiava então os C.T. T. da Lousã, isto a partir da década de 30, sendo seu antecessor seu pai, Tomás Bastos, natural de Lousada (Porto). Convém esclarecer que o ti Albano “Carteiro”, como era conhecido entre nós, já tinha exercido a mesma profissão em Álvares e Vila Nova do Ceira, no vizinho concelho de Góis.
Não era um homem de espevitada idiossincrasia, antes um senhor de uma singular aprazibilidade, propendente à boa disposição. Amante da música, tocava autodidaticamente diversos cordofones e curioso ainda é o facto de, nas horas vagas, cortar cabelo a homens ou senhoras e “ministrar” injeções à vizinhança, com aquelas seringas arcaicas, tão usuais como sinistras! Como já atrás dissemos, desbravava a pé ou de bicicleta grande parte da freguesia de Vilarinho, da Sarnadinha ao Boque. Dali, regressava “a butes”, ao posto administrativo dos C.T.T. na Lousã, utilizando o circuito ferroviário, através de uma permissão da C.P., facultada pelo senhor Miguel Curvelo (1905/1973), figura incontornável da protetoria daquela via.
O nosso amigo Albano “Carteiro”, deixou-nos a 31 de agosto de 1981. A vida, (redarguimos) vai-se num rufo..
Carlos Ramalheiro
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