Como referi na minha crónica anterior D. Ferrolho era uma pessoa extrovertida, mas humilde e com um enorme prazer em conversar.
Daí, as suas confidências sobre o trabalho exercido com S. Machel, designadamente, sobre as suas peripécias, provocadas por ambos na condução das macas ao longo dos corredores do hospital da ex-Lourenço Marques.
Em conversas anteriores já me havia dito que tinha una filha casada com um diplomata Americano e que o casal deslocar-se-ia, num tempo próximo, em serviço oficial, a Rabat, capital de Marrocos e, assim sendo, convidavam a mãe e sogra para se encontrarem naquela cidade Africana.
Estava eufórica com o convite e, obviamente, por se encontrar com sua filha e genro que não via há um bom par de anos. Conversa puxa conversa e eis senão quando me faz a oferta de um presente a adquirir por si naquela cidade.
Já por várias vezes havia manifestado o desejo de me presentear, mas eu delicadamente recusava, mas sempre com receio da ofender na sua sensibilidade, dizendo-lhe que a minha Administração me pagava para a servir.
Mas, se em outras ocasiões consegui demovê-la, parecia-me que era desta que não alcançaria fazê-lo e lá teria de lhe aceitar algo que lhe satisfizesse o seu ego.
E a conversa continuava sem saída, até que tomei a iniciativa e lhe lancei o repto, dizendo-lhe…D..Maria já que o seu desejo é tão forte e eu não quero contrariar a sua vontade, aceito-lhe uma pasta executivo de pele de camelo.
Respondeu-me… não sabe o quanto fico feliz em lhe oferecer essa pasta, e tenha a certeza que a vai receber.
Despedimo-nos cordialmente e eu fiquei expectante quanto ao próximo encontro. Qual não foi o meu espanto e desilusão, não pela recepção duma simples pasta, mas sim pela perda de uma pessoa amiga, simpática, confidente e duma amabilidade contagiante É que passados uns vinte dias apareceu ao balcão dos serviços, um casal portador de um cartão meu, que se identificou como sendo familiares da D.Maria Ferrolho, informando-me que sua mãe e sogra havia falecido repentinamente em Rabat.
Logo eram portadores da respectiva certidão de óbito, desejando regularizar a sua situação fiscal. Sem levantar o véu sobre a conversa havida entre mim e a falecida, chamei o funcionário da pasta e dei-lhe instruções para instaurar o processo do im posto sucessório, de forma que ficasse documentado para ser de imediato concluído.
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