Os cidadãos, na sua maior parte, não se preocupam com a qualidade dos que mandatam. Mais, aceitam a inversão dos papéis e, esperando por benesses e favores, em vez de exigir o cumprimento dos deveres decorrentes do contrato de representação que se contém no mandato concedido, o representado submete-se a decisões que, muitas vezes, contrariam a sua vontade e os seus interesses.
Convém recordar a uns e a outros, que a obediência, em democracia, começa nos que recebem do povo, mandato, ou autorização para governarem. Como cidadãos comuns, que nunca deixam de ser, os governantes continuam sujeitos à Lei e às leis, como quaisquer outros governados, que também são; o que têm a mais, em relação a estes, é o cumprimento de um dever para o qual se ofereceram e são remunerados para tal.
Os cidadãos mais apressados que julgam que a felicidade possível está para breve e assim ao seu alcance, ainda terão de esperar. O que neste domínio mais podem conseguir é com consciência e responsabilidade, contribuir para que a distância entre a liberdade que agora já se tem e a que é possível, seja superada mais rapidamente, tendo presente que o oportunismo da classe política exige dos governados uma vigilância constante.
Neste contexto o que importa é que a política seja de todos; que a governação seja o cumprimento de um mandato; que o serviço público seja retribuído de acordo com as funções e responsabilidade; que a obediência seja do governo; que ao Povo pertença, também, de fato o Poder.
Mas que tipo de Poder, se os cidadãos não governam nem decidem diretamente os conteúdos da governação, limitando-se a conferir legitimidade formal e institucional ao competidor que reúne o maior número de votos, sem que por isso detenham qualquer controlo sobre a sua ação efetiva? Resta assim, ao povo soberano, no ato eleitoral seguinte, penalizar uma governação avaliada negativamente, ou dar-lhe o benefício da dúvida, ou reiterar o seu apoio.
Assim, o poder de cada cidadão consiste na liberdade de competir pelo poder ou de influenciá-lo em igualdade de oportunidades, tal como é livre para escolher os seus representantes em eleições periódicas: os eleitores, enquanto consumidores da oferta eleitoral, manifestam a sua preferência aderindo às propostas ou produtos mais aliciantes à disposição no mercado político que, por sua vez, é constituído e disputado por atores políticos, que se comportam muitas vezes como empresários.
Fortunato de Almeida
Os eleitores (chefe do governo) e os consumidores, donos do poder económico, irão se manifestar via o projeto Endoeconomia, criado pela Fundação Geolíngua, a sua preferência na aquisição de produtos e serviços mais aliciantes à disposição no mercado, de acordo com o que foi noticiado no Jornal Trevim em 12-2-2004, com o titulo: Fundação Geolíngua na Lousã – com texto e foto de Geraldo Barros.