Os partidos políticos que se foram adaptando aos novos tempos, têm valor de marca se o passado o permite, mesmo quando a circunstância que o justificou está ultrapassada.
No fundo é o que acontece também com qualquer produto que se pretende vender que tendo sido adaptado ao gosto predominante dos consumidores pode ainda provocar apetência mesmo que, entretanto, tenha perdido utilidade.
Dentro de certos limites de qualidade, o produto vale pelo que “parece que é” e, como tal aceite, desde que a sua promoção seja feita com a utilização dos meios apropriados. O que significa que prospetado o “mercado”, o produto deve ser apresentado como capaz de satisfazer os “clientes”, cujas apetências são, paralelamente, estimuladas. E, como em relação a qualquer cliente menos capaz de perceber a qualidade e o género do que compra, ao cidadão, ao eleitor, aos detentores do poder de sufrágio, é oferecido o produto para cuja apetência foi mais estimulado, e, que não é, certamente, o que lhe é mais útil, mas o que melhor satisfaz os interesses de quem “vende”. Não se trata de lhe demonstrar, aliás, que o produto é o mais conveniente, mas de satisfazer o seu ego e compensar as suas frustrações. O que se pretende não é, sobretudo, prestar-lhe um serviço, mas, antes, explorar a sua vulnerabilidade.
Seja como for, a ideologia nas sociedades ocidentais, é já menos encarada como uma via de libertação do que a prestação de um serviço, porque a liberdade está já aí, com a possibilidade de utilizar uma panóplia considerável de meios com os quais se pode satisfazer interesses. O que, no entanto, não é tão fácil como parece, visto que o Poder e as elites dominantes que existem e tenderão a existir – qualquer que seja o regime -não deixarão de utilizar os instrumentos de condicionamento indispensáveis à manipulação que lhes assegura a sobrevivência. Porque à crescente capacidade crítica dos cidadãos corresponderá uma maior sofisticação e intensidade do condicionamento. E também parece que continuará a existir alguém que a ele seja vulnerável.
Com a liberdade institucionalizada e asseguradas as condições que viabilizam a democracia na concordância entre princípios e factos, os projetos partidários procurarão corresponder aos anseios dos cidadãos no sentido da superação das suas necessidades e das suas aspirações legítimas e razoáveis.
Tendo o Estado perdido muito do sentido ideológico em favor do instrumental, nada impedirá que o saudosismo ou o utopismo de setores interessados, continue a fazer apelo às ideologias que, embora perdendo a capacidade mobilizadora de outros tempos, não será de todo inútil, atendendo a que poderá ao menos servir para alertar no sentido de se continuar vigilante. Até porque, com mais ou menos incidência ideológica, a ânsia de poder, de riqueza, de fama e glória, não deixará de constituir para alguns um irresistível apelo, fazendo da dominação do semelhante um projeto de vida.
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