Casimiro Simões
Presidente da direção da Cooperativa Trevim
A poucos dias de mais um 25 de Abril, início da contagem decrescente para a celebração dos 50 anos da Revolução dos Cravos, a Cooperativa Trevim e este jornal assumem-se, com orgulho e sentido de um perene dever cívico, como parte de um percurso de vida coletiva em liberdade.
Porém, paradoxalmente, esta liberdade, nas suas vertentes de liberdade de expressão, de imprensa, de opinião, de reunião ou de associação, tem sofrido uma erosão enorme, um desgaste e uma perda que nem sempre ocorreram por geração espontânea, digamos, neste quase meio século do Portugal democrático.
A participação dos cidadãos nos destinos do país, através dos partidos, dos sindicatos e outras associações, bem como no pulsar transparente dos municípios e freguesias, em prol de um desenvolvimento com mais qualidade de vida, educação, cultura e saúde, tende a afastar-se da alegria e de muitos dos desígnios justos traçados pelo Movimento das Forças Armadas (MFA), em 25 de Abril de 1974, e depois consagrados na Constituição de 1976, que desde então sofreu várias revisões e mesmo regressões.
Da parte de algumas autarquias, nem sempre vêm os melhores exemplos de exercício democrático do poder, no que se exige transparência e independência face aos outros poderes, formais ou informais, a nível local ou nacional.
Certo é que, ainda assim, a liberdade, mesmo delapidada aqui e ali, continua a ser o bem supremo tornado possível após 48 anos de perseguições, prisões, discriminações e assassinatos de tantos portugueses empenhados, primeiro na oposição à ditadura militar, instaurada em 1926, e de seguida ao autoritarismo de Salazar e Caetano.
Entre os amigos e colaboradores do Trevim e da Cooperativa, tivemos dois cidadãos íntegros, fortes como o aço temperado, que a polícia fascista, a PIDE, prendeu várias vezes: Louzã Henriques, médico e etnólogo, e Carlos Almeida, arquiteto.
Autor dos “Postais do Zé Serrano”, publicados longos anos no Trevim, Carlos Almeida foi, aliás, um dos fundadores da Cooperativa, em 1979, cinco anos após a reconquista da democracia.
Intervieram os dois na impressionante festa democrática da Lousã, no 1º de Maio de 1974, perante milhares de pessoas empolgadas com o derrube da ditadura.
A título póstumo, é nosso dever honrar os seus legados intelectuais e humanos, numa cooperativa editora e cultural que queremos igualmente como projeto criativo, plural e democrático.
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