Nas sociedades ocidentais mais desenvolvidas, as últimas gerações deram origem a movimentos sociais que, em geral, são caracterizados por uma conceção de democracia participativa e com maior empenhamento cívico, a sustentabilidade do desenvolvimento, a consciência ambientalista e ecológica, a emancipação da mulher e a cooperação pacífica entre os povos.
Trata-se de uma orientação ideológica, marcada mais pela reatividade e pela oposição do que por propostas de projetos globais e coerentes, política e ideologicamente, dirige-se quer contra os modelos culturais, políticos e económicos dominantes que representam – do ponto de vista desses movimentos – uma ameaça para o planeta e para a humanidade, quer contra as políticas domésticas que afetam o quotidiano e a qualidade de vida imediata dos cidadãos.
Defendem um novo sistema de valores que visa superar o materialismo, o autoritarismo, o consumismo, a obsessão pela segurança e bem-estar material, o conformismo e afirmar, por sua vez, os valores pós-materialistas como sejam: a expressividade e autonomia pessoais, a paz e a solidariedade entre os povos, a cidadania política, económica e social, a participação na vida cívica e cultural, etc.
As suas metas dizem respeito ao ser humano em geral (nos aspetos mais globais e específicos), à sua dignidade, ao seu desenvolvimento pessoal e social, à sua relação com o ambiente, à proteção dos seus direitos, à sua qualidade de vida, independentemente das clivagens de classe ou divisões ideológicas.
Apostam em novas modalidades organizativas, caracterizadas pela sua enorme recetividade à informalidade, à desburocratização e à descentralização de modo a atrair mais participantes para o movimento social, flexibilizar a comunicação, democratizar o processo de tomada de decisão – através do recurso a formas de democracia direta – e proporcionar um maior envolvimento dos membros nas tarefas e atividades do movimento. Para além disso, é visível nestes movimentos, um esforço de maior independência e demarcação face às organizações partidárias, tidas como representantes, por excelência, da política convencional.
Assumem assim um novo estilo de atuação que vai ao encontro das formas não convencionais de participação política, prescindindo cada vez mais da intermediação levada a cabo pelos partidos políticos e da lógica corporativa de muitos grupos de interesse ou de pressão.
As ações de protesto dirigidas pela espetacularidade e pela visibilidade mediática, as iniciativas de sensibilização dos cidadãos, as intervenções e denúncias simbólicas, as mobilizações espontâneas de contestação, etc., são atualmente formas de atuação características do paradigma destes movimentos.
A esta estratégia de atuação não será estranha a necessidade de granjear popularidade e credibilidade junto da opinião pública, assim como de conquistar os favores dos média e conseguir eficácia política, o que fica facilitado se estes movimentos incidirem sobre questões concretas e próximas dos problemas das populações e intervierem de um modo «civilizado», sem perderem irreverência e imaginação.
Atualmente estes movimentos com participantes mais instruídos, informados e formados cívica e politicamente, têm incorporado muitas vezes valores pós-materialistas no contexto das suas próprias organizações internas, meios de intervenção, objetivos e preocupações manifestadas.
Muitos desses participantes, enquanto atores sociais, terão encontrado nesses movimentos uma identidade feita da pertença a uma cultura de cidadania e de protesto e de afirmação pessoal, no contexto de ações coletivas e da solidariedade de grupo.
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