A desfolhada ia alta, repleta de homens, mulheres e crianças, e o som do acordeão de Dona Amália dava harmoniosamente troco ao alvoroço, proporcionado pelo rito que conhecemos no desfolho do milho-rei. A aguardente, prudentemente acompanhada pelos figos da figueira em fronte, teimava em dar mais ânimo àquela que era considerada a mais viva descamisada da região, na propriedade do Sr. Joaquim Fernandes de Carvalho, da Favariça, pai de Dona Amália. Entretanto, lá das bandas da Sarnadinha, apareciam os amigos José Adelino e Aníbal Martins, de violas em riste, dando prolongamento à diversão. O Artur Pintor (primo desta casa) também não era estranho nestas andanças!…
Decorriam as décadas de 50 e 60 do século transato.
Uma desfolhada atraente como aquela era um gáudio para todos. Dona Amália, que foi professora de música na Sociedade Filarmónica Lousanense e uma excelente pianista, animava a noite com o seu acordeão, sons ainda hoje gravados na essência dos nossos pensamentos, no conteúdo dos nossos recordos.
Esta senhora, nascida nos E.U.A. a 18 de fevereiro de 1921, onde seus pais estiveram emigrados, veio para Portugal aos nove anos de idade. Seu pai, entretanto, proprietário do Centro Comercial da Lousã, junto à Estação, era um honestíssimo lousanense. Apetece-nos citar Agostinho de Campos (1870/1944): “O lar atraente é uma escola para todos.”
Já na década de 30, esta casa situada no centro do lugar era o “encosto” de muita gente. Lidava-se com a riqueza conseguida na América, com precaução, honestidade e filantropia. Dona Amália, a mais velha de três filhos, começou a estudar música e a receber lições de piano todas as semanas, com a pianista Beatriz Correia, uma professora lisboeta que se deslocava semanalmente a Coimbra, onde tinha outros alunos. Em espetáculos musicais, no novo cineteatro da Lousã (inaugurado em 1947), esta filha da terra passava a ser a pianista de serviço.
Foi casada com José Augusto Guerra (1917/2003), antigo chefe dos C.T.T. na Lousã, Miranda e Coimbra. O casal teve um filho, o Dr. José Jorge Guerra (já falecido), que foi casado com Maria Manuela Almeida da Lousã.
O espírito culto desta senhora (falecida em janeiro de 2008) fez dela uma das mais importantes mulheres lousanenses, desta última centúria…
Por: Carlos Ramalheiro
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